Geodiversidade - Conceitos e valores



A geoconservação visa preservar a diversidade natural - ou geodiversidade - de rochas geológicas significativas, feições geomorfológicas características e processos do solo, e para manter as taxas naturais e magnitudes de mudança nesses recursos e processos. A geoconservação reconhece que os componentes não vivos do ambiente natural são tão importantes, para a conservação da natureza, como os componentes vivos.
De fato, a geoconservação é uma base essencial para a bioconservação, como a geodiversidade fornece a variedade de ambientes e pressões ambientais que influenciam diretamente biodiversidade. A degradação das formas de relevo, solos e águas terá um impacto negativo sobre as espécies e comunidades que vivem dentro ou sobre eles.
No entanto, a geoconservação não se concentra apenas na importância das coisas não vivas, na conservação dos sistemas biológicos, mas também se baseia na premissa de que a geodiversidade tem valores próprios, independentemente do papel para a sobrevivência dos seres vivos. Apesar destes argumentos há quem defenda que não há necessidade de se fazer geoconservação porque os recursos terrestres são geralmente robustos.
Sharples (2002a) faz a distinção entre: Geodiversidade, como a qualidade do que se está a preservar; Geoconservação é o esforço e as medidas tomadas para a preservação e por fim, o Geopatrimónio (património Geológico), o qual consiste em exemplos concretos passiveis de serem conservados.  
Como refere Stanley (2002), "a Geodiversidade faz a ligação entre as pessoas, as paisagens e a cultura; é a variedade de ambientes geológicos, os fenómenos e os processos que formam as paisagens, pedras, rochas, fósseis e solo servindo como suporte para toda a vida na Terra". Chegando mesmo a afirmar que a biodiversidade faz parte da geodiversidade.

Valores da Geodiversidade

A importância da geodiversidade pode ser analisada de acordo com três perspetivas essenciais:

  1. Valor Intrínseco - o reconhecimento do valor intrínseco de geodiversidade constitui uma ampliação do foco das nossas preocupações éticas, isto é, é o valor atribuído por si mesmo, ou seja, independentemente do valor atribuído pelo Homem, rejeitando assim a perspetiva antropocêntrica. Quer isto dizer que uma característica geológica ou de paisagem tem um valor de conservação intrínseco. Simplesmente deve ser conservado, porque é um bom exemplo do seu tipo, independentemente se é relevante para o estudo científico.
  2. Valor Ecológico - O valor ecológico de uma coisa ou processo reside na sua importância na manutenção dos sistemas naturais e processos ecológicos dos quais faz parte. O reconhecimento da importância da geodiversidade na sustentação de processos ecológicos é a chave para integração da geoconservação no amplo campo de conservação da natureza.
  3. Valor antropocêntrico (centrado no ser humano) – normalmente é o argumento mais facilmente utilizado para preservação do património geológico, no entanto, esta perspetiva faz a distinção entre o utilitarismo, ou seja, os recursos retirados deste património (por ex. indústria mineira) e os valores de conservação do solo e da paisagem como património no seu estado natural. Ainda assim, o Geopatrimónio é valorizado pelo Homem de diversas formas: pelo seu interesse científico, de educação, estético, turismo, sentimento de pertença e pelos seus valores culturais.




Conceptualmente falando torna-se mais fácil de explicar desta forma os diferentes valores da geodiversidade, mas na verdade eles entrecruzam-se em alguns aspetos. Por exemplo, o valor ecológico da geodiversidade também é relevante para o humano, no caso da manutenção do clima e dependendo do local onde se encontra.

Conclusão:
As primeiras iniciativas para a preservação da geodiversidade são relativamente recentes. Na Europa datam dos anos 80 do séc. XX, através da criação da Associação ProGEO – The European Association for the Conservation and Geological Heritage. Mais recentemente a importância da Geodiversidade é representada através de diversos organismos como por exemplo, a dos Geoparques – Global Neywork of National Geoparks sob o auspício da UNESCO (2004).
Pela sua importância não só pelo valor intrínseco, mas também por valores de ordem antropocêntrica, ao nível da investigação científica, educação e turismo vale a pena investir na compreensão e proteção da Geodiversidade do Planeta.  

Bibliografia:
  • Brilha. J. (2005) – Inventory and Quantitative Assessement of Geosites and Geodiversity Sites: a Review
  • Sharples, C. (2002) - Concepts and Principles of Geoconservation, Tasmanian Parks & Wildlife Service website
  •  Stanley, M. (2001) - Editorial. Geodiversity Update, 1, 1.




Comentários

  1. Cara Margarida.
    Belíssima imagem para ilustrar a postagem, aliás, como todas as outras imagens neste teu trabalho. A geodiversidade e suas respetiva conservação, como relatado em vosso texto. São primordiais para a manutenção de todo o sistema biológico, do qual a humanidade também é parte. É interessante observar que a geodiversidade também possuí muita influência na cultura e no desenvolvimento da humanidade.

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  2. Muito obrigada Wagner. Cada leitura é uma descoberta, tudo está mesmo interligado, é muito interessante verificar como a Geodiversidade e a biodiversidade são interdependentes. Apesar de neste post não ter desenvolvido muito os valores da geodiversidade eles são muito semelhantes. Continuação de bom trabalho.

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  3. Boa noite colega Margarida,

    As três perspetivas sobre geodiversidade que enuncia no seu texto parecem-me as mais importantes.

    Permita-me alguma divagação sobre os mesmos.

    Conferir valor intrínseco à geodiversidade, num sentido mais amplo, seria com certeza coincidente com a consideração não utilitária/económica de toda a superfície terrestre ou seja, da Terra. Embora com origem em posições éticas menos comuns, que passam ao lado da maioria dos sujeitos, viesse a constituir uma base sólida para efetiva conservação da Natureza. Percebemos, no entanto, que continua a serem as ações de índole antropocêntrica que continuam a delinear toda ou qualquer política, medida ou estratégia em prol da preservação da Natureza (pelo menos de forma tentada). A não distinção entre biodiversidade e geodiversidade deve-se ao facto de, mediante uma reflexão mais profunda ao nível local, nacional ou global, não fazer qualquer sentido: são duas faces da mesma "moeda" coincidentes com a afirmação de Sharples (2002) que citou no seu texto “a biodiversidade faz parte da geodiversidade”. As duas constituem a Natureza.

    Parece bem claro que o inverso, a geodiversidade faz parte da biodiversidade, também é válido uma vez que os seres vivos dependem dos minerais nas suas funções fisiológicas e metabólicas. A ausência ou carência de disponibilidade de determinados minerais, constituintes dos tecidos vivos, podem representar a diferença entre a vida e a morte, a presença de mais ou menos espécies num determinado local entre muitos outros condicionamentos para a diversidade de habitats e de espécies. Tudo isto é extraível da dimensão valor ecológico que a colega referiu. Ainda assim de modo a enfatizar ainda mais a indivisibilidade da diversidade geológica e biológica, sublinharia a contínua influência que esta última exerce nos processos geológicos e respetiva força motriz de diversidade. (modelação, meterioração, pedogénese, etc.) Digamos que entre uma e outra, as relações de eventual subordinação parecem muito difíceis de determinar.

    O valor antropocêntrico é realmente o mais debatido sob o ponto de vista das trágicas consequências sobre os sistemas naturais que lhe têm vindo a ser imputadas. Mas, ainda que haja distinção, entre a componente ligada às mais valias económicas, como a extração, mineração, transformação, uso e descarte de todo o tipo de materiais geológicos e a componente com valores mais “elevados”, como o estético, educativo, cultural, turístico e por aí adiante, o culto de que a Natureza existe para uso exclusivo ou preferencial do homem teria de ser seriamente discutido e reavaliado de forma continuada e mormente abandonado se o objetivo for no sentido da genuína preservação da Natureza e da Terra. As duas componentes teriam de ser consideradas localmente de forma integrada em qualquer medida, política ou estratégia que vise a proteção da geodiversidade com evidente – e reconhecida - repercussão favorável ao nível global. Sem protecionismos económicos, a nenhum nível, para viabilizar e concentrar e/ou alienar a prestação de bens e/ou de serviços às custas das caraterísticas geológicas de uma determinada região ou local.

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  4. Caro Francisco
    Muito obrigada pelas suas "divagações" muito pertinentes. Só vêm enriquecer e complementar o meu resumido texto no que toca aos valores da geodiversidade. Stanley (2001) refere exatamente da biodiversidade como sendo parte integrante da geodiversidade. Na verdade a geodiversidade compreende uma abordagem mais holística, no sentido em que inclui também a bioconservaçao, (quando analisada na vertente biocêntrica da Natureza), no entanto, não podemos deixar de lado a perspectiva antropocêntrica pois é aquela que, como referiu e bem, traz as consequências mais nefastas.
    Continuação de bom trabalho

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