Os valores da Biodiversidade
Quais os valores da biodiversidade para
o Homem? Quando falamos em valor estamos a falar de valor económico,
patrimonial ou outros?
Serviços que os ecossistemas providenciam
A Economia dos Ecossistemas e da
Biodiversidade (TEEB) é uma iniciativa global focada em “tornar os valores da
natureza visíveis”. O seu principal objetivo é integrar os valores da
biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos na tomada de decisões. Para que
isso aconteça é necessário seguir uma abordagem estruturada de avaliação que
ajude os decisores a reconhecer a ampla gama de benefícios proporcionados pelos
ecossistemas e pela biodiversidade, demonstrar seus valores em termos económicos
e, quando apropriado, inserir esses valores na tomada de decisões. Segundo esta
iniciativa são quatro as categorias de serviços que podem ser prestados pelos
ecossistemas:
Provisão
|
Regulação
|
Habitat ou
suporte
|
Serviços
Culturais
|
Comida
Matérias-primas
Água para consumo humano
Recursos para a medicina
|
Regulação do clima e qualidade do ar;
Captação de carbono e proteção do feito de
estufa;
Moderação dos efeitos extremos;
Reciclagem de águas residuais;
Prevenção da erosão dos solos e
fertilização;
Polinização;
Controlo biológico de pragas
|
Habitats de espécies (animais e plantas);
Manutenção da Diversidade genética
|
Atividades recreativas, físicas e de
bem-estar mental;
Turismo;
Apreciação estética e de inspiração artística
Experiência espiritual e sentimento de
pertença
|
Valor económico versus benefícios dos
ecossistemas
Os valores
económicos podem ser divididos em: uso direto como por exemplo, peixe, carne,
combustível, água; de uso indireto (ou de serviços prestados pelas Zonas
Húmidas) p. ex., a capacidade de retenção de água (incluindo as infraestruturas
realizadas pelo homem para irrigação ou produção de energia) e reciclagem de
nutrientes; valor opcional, ou seja, o valor que determinada população estaria
disposta a pagar pela preservação ambiental de um zona antecipando um potencial
beneficio (p. ex.: a Floresta tropical como fonte de recursos para medicamentos
contra a SIDA ou o cancro); ou de não-valor, referindo-se ao valor não
instrumental da natureza. A dificuldade está normalmente em quantificar os
serviços que são proporcionadas pelos ecossistemas. Infelizmente, ainda não
existem dados suficientes para todas as regiões do planeta. No relatório sobre
o Valor económico das Zonas Húmidas, por ex. foram analisadas apenas 63 milhões
de hectares em relação aos 12,8 milhões de km2 listados pela
Convenção de RAMSAR. De seguida apresenta-se um exemplo da valorização das
zonas húmidas, por hectare, consoante o tipo de região.
Tipo de
Zonas Húmidas
|
Valor económico
médio (dol./hectare/ano), 2000
|
Sedimentos não cultivados
|
374
|
Madeira de água doce
|
206
|
Pântano de água salobra
|
165
|
Pântano de água doce
|
145
|
Manguezais (floresta de mangues)
|
120
|
(Tabela 7. adaptada e traduzida,
pág.15, “The Economic Values of the World’s Wetlands”)
Importa investigar
os benefícios reais da exploração pelo Homem destes ecossistemas. O que se verifica
já em alguns países é o estudo para a reabilitação e conservação destes ecossistemas,
os quais na verdade irão apresentar custos muito mais elevados, por ex. o caso
do Plano de recuperação dos Everglades (EUA) com um custo estimado de 7,8
biliões de dólares para um prazo de 38 anos (dados de 1998).
Os valores
indiretos da conservação dos ecossistemas poderão ser muito maiores do que os
valores económicos ou benefícios do uso/destruição destas regiões. Como referido
também no Millenium Ecosystem Assessement,
os valores apresentados das Zonas Húmidas no Canadá, nos Manguezais da Tailândia
e nas florestas tropicais dos Camarões e do Camboja, em termos de valoração económica
apresentam valores mais altos em dólares/hectare no seu uso sustentável ou
tradicional do que através da sua exploração económica intensiva feita pelo Homem.
Conclusão:
Desta
reflexão conclui-se que a avaliação económica é apenas uma parte dos fatores a valorizar
no que toca aos recursos naturais. Não devemos decidir preservar os ecossistemas
apenas com base no seu valor económico, pois as zonas menos valorizadas
economicamente têm a seu favor, a biodiversidade intrínseca, os seus valores
ecológicos e socioculturais. Este procedimento justifica-se por se tratar de um
meio de análise que visa facilitar a argumentação e a sensibilização por parte dos
decisores.
Bibliografia:
- · http://www.millenniumassessment.org/documents/document.354.aspx.pdf
- · http://www.teebweb.org/
- · “Living Waters, Conserving the source of life - The Economic values of the World’s Wetlands”, WWF, 2004
Olá Margarida.
ResponderEliminarParabéns pelo ótimo texto. Estabelecer valores económicos são auxiliam, e muito, a tomar decisões. Apesar de tal valoração ainda ser polêmica, quando fala-se da natureza, parece que ela é sim essencial, em especial para decisões governamentais e empresariais. Devemos compreender essa interação entre a biodiversidade e seus muitos benefícios gerados, assim como minimizar as perdas que, tantas vezes, provocamos.
Obrigada Wagner pelo seu comentário. Aqui o que está em causa cada vez e agora em termos económicos, é saber o que compensa mais: preservar os ecossistemas ou pagar pela execução de grandes planos de recuperação da biodiversidade perdida sendo que alguns casos é tarde demais.
EliminarBoa noite colega Margarida,
ResponderEliminarO seu texto resume muito bem que tipo de valores estão associados à biodiversidade e a importância de internalizar os custos ambientais nos serviços que os ecossistemas proporcionam ao homem. Creio, no entanto, que a dificuldade maior tem permanecido na enorme dificuldade em atribuir valor económico a esses serviços tão diferenciados e de complexidade extremamente elevada. Na verdade, no relatório sobre o valor económico das zonas húmidas, é reconhecido que os valores estimados podem estar bem aquém dos reais.
Em boa verdade, já conhecemos bastante sobre os serviços prestados pelos ecossistemas, sem os quais a vida na Terra é posta em causa e muitos continuam necessários para o crescimento económico. (crescimento pelo crescimento que é muito do que está a acontecer no mundo ocidental). Por outro lado, sobre a interdependência e complexidade da biodiversidade e ecossistemas não parecem subsistir quaisquer dúvidas. Então, conhecemos os serviços, atribuímos valores segundo a nossa cultura e desejos, que podem não ser coincidentes em outras latitudes, sobre uma base ainda pouco compreendida. Uma coisa sabemos! Parece ser certo, inclusivamente para cá estarmos que a Natureza tem se saído muito bem ao longo dos tempos.
Com isto não quero dizer, muito menos questionar, a importância e validade dos desmultiplicados estudos sobre a matéria em questão, levados a efeitos por instituições e organismos de renome e ao mais alto nível. Quanto muito, mais em algumas situações do que noutras, deixaria um espaço para questionar alguns fundamentos que frequentemente são apresentados.
Sobre a importância da avaliação económica do potencial dos ecossistemas, ainda que haja muito a investigar e otimizar, não poderia estar mais de acordo com a colega. A linguagem económica e monetária é realmente a que a humanidade em geral parece entender melhor. Todo o trabalho que vise facilitar a sensibilização e a argumentação no sentido da preservação da biodiversidade e ecossistemas terá de servir. Ou seja, se de alguma forma ajudar mudar a relação do homem com a Natureza então que se caminhe por aí.
Cumprimentos,
Francisco
Obrigada Francisco pelo seu comentário! Espero não ter passado a mensagem errada, a avaliação económica não é a única possível, mas como se sabe na sociedade atual é uma "vantagem" competitiva transformar os bens e serviços prestados pelos ecossistemas em dólares ou euros (apenas para facilitar a linguagem). Muito há ainda a fazer quer na investigação e monitorização quer na avaliação dos ecossistemas para bem da Humanidade!
ResponderEliminarOlá Margarida! Parabéns por sua postagem. A sua conclusão me parece de grande valor. Se a atribuição de valor à biodiviersidade se resumir apenas a termos econômicos, certamente se estará subestimando a inter-relação e a interdependência que pode existir entre os diversos ecossistemas, sem contudo ser do conhecimento dos tomadores de decisão.
ResponderEliminarContinuação de bom trabalho!
Daniel Oliveira
Boa noite Margarida.
ResponderEliminarNão só mas também.
Perceber a dimensão económica da afetação sobre a biodiversidade garante-nos pelo menos a perceção da necessidade de nos debruçarmos sobre o tema.
Vale também, pela proliferação de informação trocada, necessária ao entendimento, sensibilização e capacidade crítica sobre o mesmo.
Atendendo ao vertido por Nicolau, (2012), “depois de conhecermos e sentirmos o que é o Conceito e os múltiplos Valores da Biodiversidade, o passo seguinte é conhecer quais as ameaças à Biodiversidade.”
Ora, será mais fácil compreender o valor da Biodiversidade ou detetar as suas ameaças..?
A discussão, representa também em si mesma o princípio da solução. O HOMEM, repleto dessa consciência base, transporta em si mesmo a ameaça do incompreendido, ou será que compreende mesmo não respeitando.?
A determinação do valor prestado a algo, tende a mitigar-se quanto mais difuso for a sua perceção.
Aqui, na Biodiversidade, esperemos que a quantificação do seu valor não tenha que ser efetuada com base no seu retrato histórico, eivada de informação de uma determinada natureza viva, que o foi, noutros tempos idos, sendo essa a prova de que o falhanço foi certo.
Jorge Antunes