Biodiversidade: conceitos e valores


Neste primeiro post tentarei explicar o que é a biodiversidade à luz das várias perceções existentes e fazer uma breve alusão à questão dos seus possíveis valores para o Homem: económico, patrimonial ou outros.

Noção de Biodiversidade
A diversidade biológica ou biodiversidade refere-se à variedade dos organismos no Mundo e às relações complexas entre os seres vivos e entre estes e o ambiente. O conceito aparece mencionado pela primeira vez em 1980, introduzido pelos naturalistas que se inquietavam com a destruição rápida do meio natural e das espécies e com a necessidade de levar a sociedade a tomar medidas urgentes no sentido de proteger o património natural. Mas é só em 1992 que é consagrado na Conferência do Rio.
O conceito de biodiversidade não é, no entanto, consensual, pelo facto da sua abrangência ser tão vasta, pode ser muitas vezes confundida com o conceito de Biologia.
Segundo Miguel Araújo, “estamos em presença de um conceito pseudocognitivo, na medida em que todos assumem partilhar a mesma definição intuitiva!” Na verdade, consoante o grupo social ou profissional, assim temos uma visão diferente e várias unidades de medida.

Noção de Biodiversidade
Exemplo
Autores
Conceito
Variedade de vida
Wilson, 1992
Entidade mensurável
Riqueza + equitabilidade
Magurran, 1998
Grau de diferenciação taxonómica

Vane-Wright et al., 1991
Preocupação sobre a redução acelerada de diversidade da vida
Biodiversidade como sinónimo de conservação
Browman,1993

Serviços prestados pelos ecossistemas
Outra noção na vertente da avaliação, a ter em conta, são os serviços que os ecossistemas naturais e semi-naturais prestam à humanidade, ou seja, os benefícios que o homem retira para o seu bem-estar. Basicamente dividem-se em três:
  • Serviços de produção – de bens de consumo com valor de mercado, como: a água, os combustíveis, as fibras, os materiais de construção, etc.
  • Serviços de regulação e proteção ambiental – cuja ação assegura a segurança e conforto da utilização do território nomeadamente, através da prevenção de catástrofes, polinização de culturas, controlo de pragas e a regulação climática.   
  • Serviços de informação ou culturais (indiretos e que advêm do contato humano com os ecossistemas), como por exemplo: atividades de lazer, fruição, recreio, desporto, turísticas, de estudo de investigação, etc. 

Alterações na Biodiversidade 
Tendo em conta o último relatório disponível do Living Planet Report 2016 as alterações na diversidade biológica foram as mais rápidas, nos últimos 50 anos, desde que há registo na história da humanidade.
Desde 1970, o planeta perdeu cerca de 58% da diversidade de animais vertebrados (entre mamíferos, anfíbios e pássaros), e poderão perder-se até ao ano de 2020, cerca de 67%. Entre 1970 e 2012 perderam-se ainda:
  • ·         81% animais que vivem na água doce
  • ·         38% animais terrestres
  • ·         36% população marinha
As causas para a perda desta biodiversidade são quase todas humanas:
- a destruição de habitats
- sobrexploração de espécies
- poluição
- espécies invasoras
- alterações climáticas

Tendo em conta a sua utilidade para o homem, como se pode medir então a biodiversidade? Apenas pelo seu valor económico quantificável, pelo seu valor patrimonial intrínseco ou também como fonte de inspiração para artísticas e poetas e por isso, não quantificável.

Conclusão:
Quanto mais e melhor conhecermos as componentes da biodiversidade, melhor podemos prever, gerir, preservar e conservá-las. Para isso é necessário comprometer-nos cada vez mais com ações de educação ambiental formal e informal.

Bibliografia:
Araúlo, A., "Avaliação da biodiversidade em conservação", Silva Lusitana, p.19-40, 1998, Lisboa
http://www.millenniumassessment.org/documents/document.354.aspx.pdf (recurso da Universidade Aberta)
https://elearning.uab.pt/mod/page/view.php?id=404020 (recurso da Universidade Aberta)
Living Planet report 2016 in https://www.youtube.com/watch?v=JscKjiavY-w (Consultado em 28-10-2018)

Comentários

  1. Olá Margarida.

    Gostei muito do texto. Trata-se de uma abordagem direta e concisa, porém muito completa. As definições sobre biodiversidade são tantas quanto a própria biodiversidade. E, talvez, são muitas porque ainda pouco sabemos.

    As abordagens sobre mensurações muito me interessam (e até representam o embrião da dissertação que pretendo desenvolver). Independente de como mensurar, e notório que precisamos desenvolver uma visão mais holística, e que esta visão do todo também precisa estar atrelada aos meios e métodos para mensurar os serviços e bens da natureza. Neste contexto busco aprender mais sobre as propostas de Howard Odum, sobre a emergy e a Environmental Accounting.

    Mais uma vez, meus parabéns pela concisão do texto.

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  2. Cara colega Margarida Ramos,

    No meu entender, o seu artigo sobre Biodiversidade, Conceitos e Valores, apresenta-se bem estruturado, com um conteúdo resumido, mas focado no que interessa.

    A tabela sobre os diferentes entendimentos a que o conceito de biodiversidade está sujeita, que por sua vez pode condicionar à partida qualquer processo de avaliação da biodiversidade – segundo Miguel Araújo -está bem conseguida. Permite de forma simples se aperceber do que está em causa. Apreciei a facilidade que me permitiu estabelecer correspondência entre as datas das publicações 1991, 1992, 1993 e 1998 e o aumento de abrangência do conceito de biodiversidade, nomeadamente, taxonomia, variedade de vida, conservação, riqueza e equitabilidade.

    Por outro lado, aquele autor, ao definir a biodiversidade “ (…) como um conceito pseudocognitivo, na medida em que todos assumem partilhar a mesma definição intuitiva”, desperta o "mundo" para a complexidade inerente a qualquer discussão e eventual implementação de medidas ou estratégias de conservação da biodiversidade. Na verdade, os intervenientes neste tipo de estudos, são normalmente distintos em relação à informação e conhecimentos que portam e com aspirações diferenciadas. O mais provável é que haja um risco real das pessoas estarem a falar sob pontos de vista diferentes, confiantes de que estão a discutir sobre a mesma matéria de uma mesma perspetiva. Se assim for, não haverá com certeza consistência nas eventuais conclusões, dificultando o suporte à promoção eficaz da biodiversidade.

    Os dados apresentados sobre as alterações na biodiversidade são os mais recentes, (Living Planet Report 2016) e as causas antrópicas estão definidas.

    Ainda assim, se refletirmos sobre causas e efeitos da perda de biodiversidade, a complexidade sobre a matéria só pode aumentar, uma vez que a perda de biodiversidade com origens nas atividades referidas passa a ser ela própria, i.e. a diversidade diminuída, a causadora de mais perda de biodiversidade. Por exemplo, as alterações climáticas tanto são causa como efeito, sendo muito idêntico para os outros fatores em questão.

    Por fim, não poderia estar mais de acordo com a inquestionável certeza, de que para lidarmos com toda a problemática em redor da biodiversidade e preservação da vida na Terra, terá que haver verdadeiro comprometimento a todos os níveis com a educação ambiental.

    Cumprimentos,
    Francisco Azevedo

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  3. Boa tarde colega Margarida,

    Considero um artigo claro, conciso e esclarecedor, focando aspectos essenciais sobre os diferentes conceitos de biodiversidade. A tabela sobre a noção de biodiversidade para cada uma das correntes é bastante elucidativa das diferentes concepções e como estas dificultam a análise da biodiversidade. Aborda igualmente os serviços de ecossistemas, directos e indirectos, tão necessários ao bem-estar humano e que estando intimamente relacionados com a perda de biodiversidade, comprometem a humanidade.
    Também salientou um ponto importantíssimo, a educação ambiental é fundamental na formação de indivíduos, consciencializando-os de que as suas ações têm impactos negativos, alguns irreverssíveis, que resultam na perda de biodiversidade, mudanças nos ecossistemas e serviços de ecossistemas, dos quais precisam.

    Cumprimentos,
    Cláudia Figueiredo

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  4. Olá Margarida, boa noite.
    Após leitura do seu artigo, confirmamos a necessidade da razoabilidade na pretensão de classificação e definição do conceito BIODIVERSIDADE.
    Como acontece em tudo, a própria interpretação do termo tem sofrido alterações ao longo dos tempos. Não obstante, é unânime que engloba toda a teia heterogénea de natureza vida no planeta.
    Araújo (1998), proclama que a interpretação e definição do conceito varia conforme o agregado que o representa. É caso para dizer e relembrar, que em cada interpretação que fazemos deixamos a nossa marca própria, com tudo o que isso representa.
    Julgamos também que para lá do entendimento que a biodiversidade representa o numero de espécies, deva ser entendida numa perspetiva mais global, compreendendo a diversidade dos ecossistemas, com toda a identidade corpórea existente.
    Deveremos entendê-la também como um necessário recurso que podendo ser aproveitado deve consagrar em si, a mesma exigência pela salvaguarda, pois sem esse equilíbrio necessário, a manutenção dos ecossistemas perde o seu garante primário.

    Parabéns pelo artigo.

    Jorge Antunes

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  5. Ola Margarida
    Parabéns pelo conteúdo que apresenta acerca da Biodiversidade e seus valores.

    A biodiversidade é uma fonte incalculável de recursos, isto concorre para existência de diferentes percepções.
    Penso que precisava fazer referência as consequências da perda da biodiversidade, pois quanto mais se fala mais ganhamos consciência dos nossos actos sobre o meio ambiente, e poucos percebem que ”A perca de biodiversidade e a deterioração dos serviços ecossistémicos contribuem direta ou indiretamente para piorar a saúde, maior insegurança alimentar, aumento da vulnerabilidade, menor riqueza material, piora nas relações sociais e menor liberdade de escolha e acção”. (Millennium Ecosystem Assessment;2005.p.30).
    Nos dias actuais, as alterações climáticas além de constituírem causas da perda da biodiversidade, elas também são consequências, porque resultam da destruição de habitats pelo homem.

    Cumprimentos

    Referencias Bibliográficas
    Millennium Ecosystem Assessment (2005), Why is biodiversity loss a concern? Institute, Washington, DC.

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  6. Boa reflexão, concisa e sucinta, focada na mensagem a passar. A tabela, como já referido, foi bem conseguida. A utilização de outras fontes bibliográficas, de entre aquelas de leitura obrigatória, teria naturalmente resultado num texto mais enriquecido, mas estamos apenas a iniciar um caminho e terá oportunidade para o desenvolver :).
    Quanto à conclusão, adicionaria alguns termos: "Quanto mais e melhor conhecermos as componentes da biodiversidade, MAIS E MELHOR A VALORIZAMOS, melhor podemos prever, gerir, preservar e conservá-las." Neste âmbito, naturalmente que a educação, e a educação ambiental, formal e informal deverão ter uma papel de destaque. Continuação de bom trabalho, Paula Nicolau

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