Ameaças à Geodiversidade




Como Refere Brilha (2005), a Geodiversidade condicionou desde sempre a evolução da humanidade. O desenvolvimento da nossa espécie foi sempre condicionado pela disponibilidade de alimento, existência de condições climáticas favoráveis, locais de abrigo e de recursos materiais para a sua construção, etc. Desta forma, as ameaças que condicionam a biodiversidade serão muito semelhantes às ameaças à geodiversidade.  
Fernandez-Martinez (2010) faz a distinção entre vulnerabilidade e fragilidade, sendo a primeira o risco de destruição associado à ação humana e a segunda associada ao risco de degradação de um local presente em condições naturais (sem a influência do Homem). Dito isto, e num contexto de ameaça elas são no entanto, usadas com o mesmo significado.
As principais ameaças à geodiversidade elencadas por Brilha (2005) são, na sua maior parte, de origem humana. Não obstante muitas destas ameaças serem negativas algumas também têm impactos positivos:

  • Exploração de recursos geológicos – as atividades extrativas trazem consequências a dois níveis, ao nível da paisagem (impactando negativamente o local e com consequências graves ao nível da segurança como a recente derrocada no município de Borba) e ao nível do afloramento, em que a extração danifica seriamente as formações rochosas;
  • Desenvolvimento de obras e estruturas – a atividade humana exige a construção de grandes obras como pontes, autoestradas e barragens as quais, provocam impactos nos solos e nas estruturas rochosas; no entanto, também traz consequências positivas, por ex.: a barragem do Alqueva cuja construção alterou não só a paisagem, como o clima adjacente e consequente fauna e flora;
  • Gestão das bacias hidrográficas – através da construção de diques, barragens e canais que alteram tanto a biodiversidade como a geodiversidade;
  • Florestação, desflorestação e agricultura – tanto a florestação, ao esconder as características geológicas da região, como da desflorestação que provoca a erosão das rochas têm impacto sobre a geodiversidade;
  • Atividades militares – o impacto destas atividades bélicas (não é o caso em Portugal) provoca a destruição quantidades de terrenos consideráveis;
  • Atividades recreativas e turísticas – se por um lado se apresentam os locais de interesse geológico como de valor para o homem no sentido de serem preservados e visitados, por outro lado, o excesso de turismo e a pressão sobre estes locais apresenta um grave risco para a sua conservação;
  • Colheita de amostras para fins não científicos – fósseis, minerais e rochas são recursos naturais não renováveis que muitas vezes por ignorância ou mesmo por maldade, são subtraídos dos seus locais de origem sem qualquer tipo de cuidado;
  • Iliteracia Cultural – esta será a ameaça que engloba todas as anteriores pelo desconhecimento da população em geral, mas também dos técnicos e dos políticos.

As primeiras iniciativas para a preservação de sítios geológicos são relativamente recentes. Datam dos anos 80, do séc. XX, alguns exemplos como a criação da Associação PROGEO – The European Association for the Conservation of Geological Heritage. Mais recentemente foi realçada a sua importância com a Rede Global Network of Natural Geoparks sob o auspício da UNESCO (2004). Em Maio de 2004, o Conselho da Europa aprovou o primeiro documento dedicado, exclusivamente, à Geoconservação. Trata-se da Recomendação Rec(2004)3, adoptada pelo Conselho de Ministros do Conselho da Europa relativa à conservação do Património Geológico e de áreas de especial interesse Geológico. Não podemos esquecer que este documento surge cerca de trinta anos após os primeiros acordos internacionais tendo em vista a proteção da biodiversidade.
Destaco ainda a Convenção Europeia da Paisagem assinada em Florença em 2000 por ser o primeiro tratado internacional dedicado exclusivamente à Paisagem e que foi ratificado, por Portugal, em fevereiro de 2005. Relativamente à legislação portuguesa refiro o Dec. – Lei nº 142/2008 – sobre a Conservação da Natureza e da Biodiversidade e a Lei nº 19/2014 – Lei de base do Ambiente.
Para além da necessidade de legislação, é necessário cada vez mais sensibilizar e educar todos os públicos para a conservação do património geológico.

Bibliografia:

  • Brilha. J. (2005) – Inventory and Quantitative Assessement of Geosites and Geodiversity Sites: a Review
  • Brilha J. (2005). Património Geológico e Geoconservação. A Conservação da Natureza na sua Vertente Geológica. Palimage Editores. Braga.

Comentários

  1. Olá Margarida, parabéns pelo artigo! Compreende-se que são infidas com propensões à vulnerabilidades quando são elencadas as ameaças da geodiversidade, principalmente onde as ações humanas são determinantes a curto, médio e longo prazos. Ressalto Gray (2004) a existência das ameaças significativas ao patrimônio geográfico a partir de uma variedade de atividades humanas diretas ou através da influência de operação de processos. Apesar da proteção da geodiversidade seja uma complexa tarefa, são fundamentais trabalhos como este na ampliação de discussões em prol de estratégias que visem acrescentar a importante existência para usufruto das gerações futuras.
    Continuação de bom trabalho, abraços, Cecileny.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Cecileny
      Muito obrigada pelo seu feedback. Continuação de bom trabalho!

      Eliminar
  2. Ola colega
    Parabéns pela reflexão bastante perceptível acerca da ameaça a Geodiversidade.
    De facto a principal ameaça a perda da Geodiversidade e a espécie humana movida pelas rápidas transformações sociais e económicas no mundo. Todas ameaças destacadas no texto, tem um impacto significante na Geodiversidade e na vida do homem. Concordo que precisamos incluir todos os seguimentos da sociedade na preservação da Geodiversidade.

    Cumprimentos

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Os valores da Biodiversidade

Geodiversidade - Conceitos e valores

#No Reino das Margaridas